segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Uma campanha política de monstrinhos

A moda pegou fortíssima: os candidatos caíram de boca – literalmente – nos carros de som. Um elemento ambulante devidamente construído para azucrinar o eleitor nos quatro cantos da nossa cidade.

Guarulhos é uma cidade peculiar quanto ao ruído e quem trabalha com a voz já está acostumado a dar aquelas paradinhas tradicionais quando um 747 se aproxima. Com a palavra (se é que tem voz para tanto) os professores!

Com base na lei eleitoral, os jingles de campanha – em regra – estão liberados, embora já se esteja tratando a questão com restrição para determinados locais da cidade. Mas, a exemplo da eleição anterior em que muita gente conseguiu um bom recall (índice de lembrança do eleitor) e chegou lá, muitos aspirantes a edis estão utilizando este artifício.

Por outro lado, por mais que a população esperneie e o representante máximo do judiciário dê o seu veredicto, ouso colocar a minha colher neste angu e, abusando ainda da metáfora, engrossar a sopa de letrinhas com mais alguns estrangeirismos.

Para fazer uma música visando oferecer um produto ou serviço, é necessário uma análise muito aprofundada do target (público-alvo) para conhecer o grau de afeição ou rejeição à aquele determinado ritmo musical, do baião ao funk carioca, passando pelo jazz até o country music. Se você acertar na veia, ou seja, oferecer um ritmo de forró para quem aprecia, nem assim haverá a garantia de agradar o público, porque nem todo mundo gosta de paródias de seu cantor predileto.

Por certo, o político (ou o criador da campanha) procura um ritmo “chicletinho” (uma alusão ao tempo que você fica mascando), como as marchinhas de carnaval. De qualquer forma, a esmagadora e maioria tem versões horríveis, que tendem a ter efeito contrário, ou seja criam uma absurda aversão ao candidato. Quanto ao texto, nem se fala: honestidade, inteligência, homem trabalhador, proposta de felicidade, tudo isso não seduz, pelo contrário, são argumentos no, mínimo, questionáveis e subjetivos.

Assim, entre jingles, recall, target e afins, faltou explicar o “monstrinho” do nosso título. É que, num processo de criação de uma campanha publicitária de altíssimo nível, a primeira versão de um jingle é denominada “monstrinho”, pois ele é muito mal acabada, visto que é “cantada” (entre aspas mesmo), por qualquer um dos responsáveis pela campanha que faz questão até de colocar o “pá-pá-pá” no final. Quando muito, tem o acompanhamento de um violão desafinado com, no máximo, uns três acordes. Claro que, depois de aprovada, vai para um estúdio com locução e arranjos profissionais.

Chega de monstrinhos.

Jacques Miranda e professor universitário e especialista em marketing.

Um comentário:

Diário Jovem disse...

Isto não é um comentário e sim um agradecimento que venho fazer por todas as aulas que foram ministradas por este grande homem e professor Jacques Miranda.
Uma grande inspiração e aprendizado tanto pessoal quanto profissional.
Obrigada por este maravilhoso semestre.
Sua aluna Natânia Aparecida de Araújo